segunda-feira, 4 de julho de 2011

Menino

Eu amava esse seu jeito despojado, nem aí pras coisas, sabe? Nem aí pras pessoas que passavam e olhavam com olhares curiosos. Tu continuava a falar alto e a gargalhar e a cantar, assim,  no meio da rua. Tu não parava de cantar.. quase por nada nesse mundo. Quando saía, pegava qualquer chinelo, qualquer sapato, camisa, calça, rasgada, que fosse, sem nem ligar para o que os outros iam achar. Sem nem ligar se parecia antiquado ou não. Não importava: o teu corpo já dizia; o teu jeito exalava tudo. Roupa, chapéu, tênis, eram só detalhes. Você tava ali, malandro, dentes à mostra, com aquela facilidade imensa de falar e sorrir. Sei lá.  O importante era estar .

Você chamava de altruísmo coisas muitas que fazia... todas as vezes que se doou e eu senti ciúmes. Acho que no fundo isso transformou-se em uma das tuas poucas vaidades, essa de doar-se aos outros e se mostrar prestativo e... Não que fosse forçado ou fingido, sei que não. Mas de alguma forma, transformara aquilo numa pequena vaidade que te nutria a alma: o agradecer, o brilho nos olhos alheios, pessoas vindo pedir abraços - os quais eram famosos, diga-se de passagem. O teu jeito de sentar, de ficar, de me acompanhar. Com aquele ar meio contemplativo, não sei... Como se parte sua ainda fosse aquela criança que tanto vi em fotos, aquele menino com cara de sapeca, meio tímido, meio peste. Meio viajante/navegante desse mundo, imerso em si, mas completamente doado à vida. Sempre mais lá do que aqui... Isso me fascinava. Era por te ver tão solto que queria me prender mais em ti. Queria sambar nas tuas mesmas cadências, queria entender e desvendar a tua beleza. Menino, tu era bonito demais da conta! Com todos aquelas melodias, roupas claras, sorriso aberto, cabelo solto, meio doido, abraço apertado, conversinhas, elogio. Meio maluco, meio jogado no mundo - meio tudo o que eu não era,  meio muito do que eu queria.

(Tanto que nos entrlaçamos inteiros, intensos. Eu acompanhava com o olhar,  e me apaixonava todos os dias. Demais. Sei não... sei que hoje morro de saudades. Saudade das boas, dessas que já não se atrelam mais à necessidade, mas à tranquilidade do que foi e ficou em seu devido lugar e que valeu como poucas coisas o fazem.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário