sexta-feira, 23 de setembro de 2011

me devolve esse sorriso ?


É que naquele ato de graça mór nossa sincronia se fez audível em forma de humor compartilhado;
ela deu um riso de uma raíz tão profunda e audaz que da minha boca todo o meu foi roubado. 
Furtiva e risonha ela flui pra fora de si, desaguou orgânica na própria pele e o ato se concretizou: cada milímetro de contração muscular no qual eu pudesse esboçar um sorriso fez-se ausente. 
Volátil, inodoro.
Ela sorriu por mim, eis o que sucedeu.
E eu, de olhos preguiçosos tragados por aquele sorriso duplo, não clamei para que me devolvesse… deixei que partezinha de mim continuasse pertencendo a ela; gozo esboçado em lábios alheios e esticados, dentes e partezinha da alma escancarados.
Encantei-me, permaneci.

Olhos estáticos. Corpo esquecido. Algum resquício de graça forçando o canto da boca entreaberta. Nada de riso. Os olhos talvez sorrissem, e muito, enquanto viam oscilar nas sinapses contrativas daquele tecido muscular o meu sorriso roubado atado ao dela, 

meio mágico. É... meio sufocante e mágico.

Retomei meu chão ou parte dele. Meu lábios colados nos dela dançavam contorcidos de humor;
Retomei algo a mais, uma lucidez suficiente para que uma ideia desabrochasse e me preenchesse,
foi inundando,
foi passando, o tempo, esse tempo...
e ideia tal que a mente teimou parasitar, ficou, sem findar, e cresceu:
Como daquele sorriso retomar posse
(ecoava, pretensiosa)
se um beijo eu NÃO roubar? 
(instigava, querendo ser)
pois bem .

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

EU AMO PORQUESIM


Tá bom, disse, vou subverter! Não vou deixar de amar mais! Não vou ficar nessa tentativa doentia de forçar esquecer. Que coisa é essa de que o amor é aniquilável assim? Por isso dói, durrr! Vou subverter aprendendo que amar não se resume a...


amar não se resume.


A essa ideia fraca de amor aliado à posse. Presença. Me deixa amar como tem que ser... sendo feliz de longe, comigo! Amar não é pensar no ser amado todos os dias, a todo o tempo. Nem escrever ilíadas das mais românticas, serenata na janela, nome na areia. Isso é cultura. Quero amar me perdoando da ousadia de isentar a cultura da palavra. Amor sendo inteiro distante. Amar não é dividir, seiláqueporra é amar... Sei que não é dividir. E vou continuar... decidi, vou continuar amando por ser, amando por amar. Amar por existir, por compartilhar, por sentir carinho. Por gostar. Amar por ter compartilhado, amar pelas lembranças, pela intimidade cedida. Mesmo que não mais. Se o encontro foi descartável, que se foda o encontro, que se foda quem foi o imprudente que o descartou. Vou ser feliz por ser humano, por sentir. Por ser orgânico, são e racional e ainda assim, sentir. Amando sem necessariamente ter por perto. Amar por sentir essa palavra láááá dentro. Amar por reconhecer que é sublime; que é único. Amar por reconhecer que o encontro É único! Que as pessoas são raras, são milhares... e raras. E merecem. Amar por, puta que pariu!, quem foi que disse que era assim? Eu não projeto, eu amo. Eu não atento, nem almejo. Eu não peço, nem suplico,
sem pranto, nem desespero; nem me dói, só cura; eu não anseio, nem saúdo, só amo.


"Eu te amo. Mesmo negando. Mesmo deixando você ir. Mesmo não te pedindo pra ficar. Mesmo não olhando mais nos teus olhos. Mesmo não ouvindo a tua voz. Mesmo não fazendo mais parte dos teus dias. Mesmo estando longe, eu te amo. E amo mesmo. Mesmo não sabendo (oqueé) amar."

sábado, 17 de setembro de 2011

por leveza, por ausência, por nada. nadinha.


Olá,
hoje escrevo por não ter nada a dizer. Hoje me inspiro pela ausência de criatividade e minhas ideias expiram no primeiro revirar de olhos. E meus olhos reviram freneticamente à procura silenciosa dum vazio sinistro 
e meu coração desconstrói a si 
por leveza.

Todo multifacetado, meu coração já desaguado inteiro em sangue
já pulsando em tudo quanto artéria
desata a reconstuir-se na cadência duma ventania que promete chuva,
e ali longe na cabeceira e esquecidos, meus fones de ouvido tocam sozinhos
e daqui de longe vendo soltas as notas jorrarem espaço afora,
avivo o olhar e a pulsação como que em notas tais quisesse dançar
e nelas 
inebrio.

E digo pros meus ouvidos aquietarem e deixarem a música desgrudar deles;
eles não querem e dizem
caso pare de soar para dentro de nós,
volta. Um dia.
E um amigo diz
leva a música na alma
e eu digo que acho graça,
e rio feito louca, feito lúdica,
mas minha boca insiste sincera e esboça um sorriso,
meio sorriso feito orgulho de ser,
feito reconhecimento de ser poesia,
pois ela bem sabe de si quando em sorriso se estica
é que a alma quando quis sair por ela
agarrou e levou corpo adentro aqueles acordes, 
feito fossem um pedaço perdido de si.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Da série As Coisas Soltas da Vida; Na cadência que só um samba...


Foi em pleno carnaval.

Sabe aquele movimento orgânico incessante feito um labirinto vivo e fluido de gente movido a música e álcool? Pois era.
Amigos há tempos, aqueles dois. Tempos medianos, não tanto de infância e não tão recentemente dos frevos de faculdade. Tempo suficiente, pois.
Compartilhavam dessas amizades leves, cômicas. Coloridas pela ordem natural das atrações.

Bem, era carnaval:
euforia etílica,
os sentidos embaralhadamente aguçados, o pudor a bailar emaranhando todas las vontades;
um tango meio sambeado para uma lascívia; um cintura prum olhar. Efusividade prum abraço (coletivo),
uma mão pruma garrafa de cachaça, pruma bunda, pra seios de plástico.
Dedos pra agarrar, cabelos para serem agarrados.
Roupas para suar, celular pra perder,
Pés para querer. E ir.
Um bigode postiço pro riso;
uma alegoria prum pretexto.

Eles se olharam no findar de um desencontro, desataram a rir cúmplices e, então, pararam:

"Como tá procê aí?"
"Tá bem", olhou pros lados, dançou um quarto de samba, fez reverência, "Eaí?"
"Tá bonito", deu com os ombros e sobrancelhas como quem dá um veredicto retórico, meio riso, "Tâmo bem, hein?"
"Bota bem..."
"É.."
Um sorriso e meio, "..."
"...", Um olhar pelas metades

Uma pausa pruma dúvida.


"..."

...

...

...

.

Um traço diagonal desalinhou olhar afora fixando as retinas de um na boca do outro, desdobrando ato tal num sorriso mútuo;

- "Cê tem uma boca de curinga", um deles soltou

E tinha mesmo.

Os olhares se fizeram baixos; lábios esquecidos entreabertos, desses que tomam pra si a finalidade inteira de expressar contemplação. O resto do corpo fazia papel de sustento. As mãos de um é que tomaram a iniciativa de tocar os lábios do outro, e assim apressaram-se a delinear, curiosas, as fendas que davam ao sorriso um alongamento horizontal de curinga; sorriso triangular de traços oblíquos, diga-se de passagem, desses elogiados desde a infância.
E, como que já não houvesse calor suficiente, a ponta dos dedos passava, agora, a roubar da pele fina e rubra dos lábios tais parte pouca da energia térmica que praticamente expulsavam; consequência direta do fluxo sanguíneo acelerado pelas firulas carnavalescas. Calor pouco porém suficiente para aumentar a curiosidade, não só das mãos mas do corpo inteiro, pelo gosto da língua ali guardada. Tanto e pacientemente adiada. A vontade.

E assim findou a espera:

Juntou os próprios lábios com aqueles que lhe prendiam os sentidos e os guiou de encontro a si como quem leva o primeiro pão-de-mel da vida ao paladar. Os beijou com uma minúcia de quem degusta pela primeira vez e sente a iminência de um medo de perder o teor suave de algum tempero sutil; a prudência diante do desconhecido; a sede e o cuidado de alguma aventura da meninice quando as curiosidades parecem emanar de tudo. Tudo. E se demorou na descoberta da primeira textura, seca. E se aventurou nos diversos ângulos que lhe eram permitidos, todos ditados ainda com muita cautela, como que ainda pedisse permissão num ato agoísta de descoberta. E a cada novo beijo, um pedido. Um demorar-se com e em si. E quando a vontade mútua transbordou em evidência, toda alegoria que os rodeava dançou invadindo-os gradativamente feito serpentina no ar, e degustaram um ao outro enquanto o carnaval fluía em cores e marchinhas.
Enquanto o carnaval fluía em algum brilho forjado, em umas e outras garrafas esquecidas no chão;
em ombros, milhares, amigos que sustentavam axilas amigas suadas de euforia. E quem disse que os ombros ligavam?
Tava tudo bêbado de suor e inebriados pelos pés que saltavam do solo salpicado de confetes e coisas soltas
numa frequência harmônica da cadência que só um samba



(de raiz)



sabe sambar.