segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Esse negócio de Ser? Só sendo mesmo pra saber

Qualquer coisa que pareça fabulosa!
Qualquer fagulha que se mostre cruamente incrível!
Qualquer nesga, qualquer aresta, qualquer vazio.

Eu procurei botar lentes na frente dos olhos, e quando as objetivas me faltaram, apelei pras divergentes.
Busquei colocar anteparos antes das minhas próprias retinas,
para que, então, o mundo visse o que eu via.
Para que o tom ofegante que tomam as coisas novas, brotasse múltiplo
córnea , sódio e potássio adentro.
Da retina, direto ao coração fugissem; e que coração e alma despertassem feito meninice,
numa ciranda de espontaneidade e verdade e beleza.

Que todos os conceitos acerca das coisas todas enfim voltassem ao ponto de partida; retornassem ao ponto essencial,
à tangente da pureza de Ser e Estar e filtrar o mundo com naturalidade! E nascer e existir e entender a liberdade de rechear a existência com as coisas que nos soam reais e leves!

Pois desde cedo me ficaram resquícios daqueles tantos filmes de donzelas e dragões; Me fizeram acreditar que era isso, afinal, esse tal de amor! Esse ir e vir de inteções.
Vivendo mais as expectativas do que as coisas reais, em si.
Mais os medos das solidões profundas e as necessidades carentes de afago.

Muitos brincam de falar sobre a raridade de amar e, sem saberem, já foram detentos de sentimentos que constroem o amor nas suas múltiplas formas;
Outros infelizes morrem de medo. Acabam por se debater dolorosamente uma, duas, três, várias vezes nas paredes confusas dos confins da auto proteção.

Estes e tantos outros frustram-se no choque do amor verdadeiro, ainda impregnados da cultura de tudo regrar, tudo entender, conceituar! Não aprendemos a distinguir as espontaneidades afetivas daquilo que desde cedo assimilamos midiaticamente como amor.
Não aprendemos a espontaneidade, ou a clareza, ou a liberdade.

(Todos os meios de comunicação bombardeiam ideais de relacionamentos como se o amor fosse algo meritocrático e talvez um pouco cartesiano. Pacotes conceituais em forma de catarse em filmes, trilhas e cenas. Em forma de desejos de consumo, necessidade de possuir a metade da laranja que te leve flores músicas e passarinhos no mês sexto de compromisso.)

O Ser Humano é aquilo que sente,
o ser é instinto e é ilegível!.Fruto cultural interativo social orgânico e celeste;,

O ser é cognição pura que tanto tenta conciliar todas as raízes múltiplas que o preenchem; todos esses aspectos das mais diversas naturezas. Os instinstos, os direitos, os deveres, a moral, a ética e o impulso. Em prol do que? Sei lá!, de amar, da satisfação, da endorfina, da adrenalina, de sorrir, de parecer, de apaixonar-se, de assimilar o mundo confortavelmente. De Felicidade (e esta também se encontra no dicionário e na ponta da pretensiosa e imensa língua do senso comum.)!


- Sem contar a natureza doida destes questionamentos, bastasse a minha imensa metalinguagem-prosa ao refletir sobre cultura & ser através de um dos elos mais antigos e eficientes e intrínsecos entre os dois: a línguagem.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

sobre meu mundo caricato, torto e lindo





Hoje eu sorri pela primeira vez para a menina do brechó. Ela sorriu em simultâneo enquanto abríamos os cadeados, ela de lá, eu de cá, a comecinho de expediente. A papelaria vizinha já a mil, tão estaticamente a mil. A vendedora sentada em meio a pilhas de papel chamex, durex e porta-docs exibia seus olhos fundos das seis da manhã. Eram nove e um pouquinho, meus olhos eram das oito e filmavam curiosos.

Os secadores de cabelo sopravam graves, as tesouras e línguas afiadas das cabeleireiras salpicavam em murmúrios incessantes. Era dia de quinta-feira e o centro de diversões sul, banhado de sol, mostrava suas entranhas, enxugando e secando as lágrimas, os detritos e os segredos da noite anterior.

Almodóvar, eu diria. A menina da loja de roupas usadas veio de um filme de Almodóvar. Habita o rosto, as roupas e a postura uma expressão distinta, coisa de louco, ator louco, diretor louco, gente louca criativa que vê beleza nos traços mais curiosos. Acontece que! ela era real, a par da velhice das roupas e da desordem dos produtos empilhados da papelaria. Acontece que criatividade não era de enredo, ou cênica, era simples da combinação gênica do pai e da mãe que desaguou naqueles olhos cerrados por pálpebras enormes. E naquele queixo quase ausente. Minha porta que a enquadra do outro lado do corredor, atrás de mais um balcão é somente e bastante uma porta. Não é tela, nem pixel, tampouco anteparo. E as roupas nas araras, verossímeis. E o cansaço do trabalho estampado em olheiras, à prova d'água.

Nem meu olhos, nem meu encanto eram película e trilha sonora. Ou fotografia, o agudo obtuso do meu ponto de vista enquadrado nos ares caricatos daquele comércio.

Tudo tão tão tão puro e somente real que merecia filme. Aquele centro. As entranhas das cidades. Centro de diversões! Diversões, vá dizer!, dessas que ninguém quer ver. Que reviram os olhos. Que polemizam na TV. Das que extrapolam pudores, das que todo mundo guarda em instinto. Diversões. Tortas e bastante tristemente, mazeladas; Se formam no tempo e no absurdo descontrolado de tudo que é urbano, humano; De tudo que prolifera, que amarela e adoece. Que tem cheiro de gente, que tem saliva e língua e fome. De tudo que se perde o controle. De tudo que contrasta e sobrevive. Só mais uma face de tudo que, economica e politicamente não importa pros grandes marioneteiros das gentes, esses inescrupulosos.



A beleza que vi era isso tudo que não tem jeito. Era a desordem natural das coisas. Sempre em algum canto e aresta de mundo enquanto houver mundo e enquanto houver gente. Isso que tem a luz de tudo que é real e torto quando orgânico, esbugalhado quando olhar, esguio quando agudo, e triste quanto pode. Faminto quando vazio, sedento quando ausente e assimétrico quando sempre.


Tudo que tem a luz de existir
luz linda e apressada louca luz de existir

domingo, 3 de junho de 2012

amar muito, se

"
Eu poderia amar aquele homem. Amar muito.

Era assim toda vez que o via. Bastava que ele chegasse e fizesse o que tivesse que fazer, logo flagrava a mim mesma fotografando todos os seus trejeitos e dicções. Repetindo, em silêncio, a imensidão do amor que eu poderia jurá-lo.

Momentos depois, no vislumbre de seus retratos da mocidade; no revelar de seus ideais, de suas poesias e de seus gostos; de seus gestos e desgostos que a vida projetara. Depois de tanto, depois de tudo, ele ainda me permitia vê-lo ali, de pé, sem dar-se conta ao menos da concessão de sua presença que apenas eu, agradecida, valorava como ninguém - imersa em meu amor potencial.

Já não tão atraente esse homem, veja bem. Ser orgânico é ser temporal. E eu poderia amá-lo muito, e mais, por isso. 

Principalmente, vos digo, o amaria pelo broche que carrega no peito. Por todos os livros que ele lera. Pelos versos que sei que ele esboça muito bem. E pela barba volumosa, e pela irreverência. 

Pelo entrar por aquela porta, pelas líricas intersecções,

falo sério, e com fervor,

eu poderia muito amar aquele homem.
"
e olhou pros próprios lábios como se fossem os primeiros
ou últimos.
esticou-os, sorriu, lambeu-os:
o quão molengas podem ser? quão orgânicos?
e beijáveis? desejou alguém que os desejasse.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

meu menino homem lindo no mundo


      Eu gosto de você assim Cru. Despenteado, cheirando a gente, de postura caseira e olhos febris.
Eu gosto de ti assim demais; ofego, suor. De caras e bocas que não ousa mostrar pra ninguém além do espelho. Gosto de ti humano com o que tens por detrás aí dessa tua pele que te tanto preocupa.


      Gosto de ti descalço, nu. Desse jeito despojado que te portas diante de mim. Estirado na cama, íntimo.
Entrelaçado e choroso. Gosto do olhar de saudade que sai dos teus afiados lindos olhos negros que agem cortantes por onde passam; e desse teu sexo que reflete, na força, o encanto imenso que guarda e contém comprimido, quase a transbordar, pra não perder a seriedade.
     
     Tem problema não. Não mais, não para mim e não agora.
      Agora te gosto assim rídículo e mais lindo do que nunca. pois de alma despida Te gosto na sua despretensão, quando te basta o chinelo e a brancura neutra de uma camiseta qualquer. Corpo quando, nu, me atiça o tato; na sinceridade do aperto dos teus braços; na crueza desse teu afeto orgulhoso e na dureza de tua vaidade amolecida por alguma coisa que vê nos meus olhos. Algo que se deixa filtrar.

      Te amo no calar da percepção que exprime quando me olha fundo - da qual tenho conhecimento apenas pela forma como repousa o olhar no meu. E na cara de perplexidade que te veste quando isso acontece e eu finjo não notar sua atenção posta nos meus trejeitos que teimo evidenciar. Por charme, por vaidade minha. Por mulher.

     Pois venha, por fim, por nós. Pega esse chinelo, as chaves do carro e deita do meu lado. Pois de saudade só me resta o reencontro... Nem que te vás depois, ou seja la como te apetecer o orgulho. Mas antes fica.
   
      Fica e te escancara de vez que é nesse homem que vejo beleza. É desse homem sincero e completo e corajoso, que de anteparo pros olhos deixa apenas algum pranto sincero. Que, de mãos soltas, dança diante de mim.. Mãos tranquilas e isentas do pudor de tapar os olhos, de esconder a alma que tem sede de falar. Dona de uma boca que não fala, no entanto.
      Por isso eu digo, e repito!
      Despenteia esse cabelo, larga esse riso exprimido e delira com os dentes todos à mostra. Queira. E deixe ser. Te sejas suave, te percas na beleza de ser cru e compartilha....

Depois te vás, como bem quiser, veja bem.
De óculos escuros e sentimento lacrado no fundo do peito, se assim lhe confortar,
Tudo bem, no fluxo natural das coisas, tem um sempre um lindo sol para que teus olhos detenham negros e oblíquos... Puts,
tu me mexe inteira

quarta-feira, 7 de março de 2012

Buenos Aires

Eu refiz meu caminho, meu primeiro caminho ditado das ruas de San Telmo, o refiz inteiro desde o ponto de partida. Sem intenção iminente, me peguei com as pernas ditando direções comuns, como que Buenos Aires me levasse naturalmente a elas, todas.

Foi no meu ultimo dia porteño, por assim dizer.

Logo después de ver partir minha compañeira dentro del colectivo numero ocho, na direção longa do aeroporto de Ezeiza, me fui adelante cruzando a Independência onde a Av. Paseo Colón desembocava diante da grande construção neoclássica que sedia a faculdade de engenharia da UBA; imponente, classuda e decaída.
  As ruas se iam alheias, as pessoas apressadas e os homens sempre atentos com seus inevitáveis, incógnitos e galantes sussurros sempre audíveis a ouvidos femininos. Ventava daqueles ventos que anunciam chuva, e as folhas secas, poucas, viajavam por entre as pernas, deslizavam pelo asfalto e pela irregularidade idosa das calçadas. Vi que a Avenida Belgrano se aproximava e, logo a direita, advinhei o Chino careiro que tanto nos tomou a paciência com suas músicas pops orientais. O vento apressou-se em emaranhar-me os cabelos e a praça que pronunciava a vista da nossa janela se fez ali. Ali tão surrada e salpicada de gente

como tantas vezes antes, invadida pela mesma passeata que nos acordava manhãs a fio pelas batucadas proletárias de viejos porteños.

Me lembrei do Livro mágico encontrado no meio de tantas outras publicações encantadoras que compunham a mesa de centro do apartamento 4A, em cujo edifício, número 148, diga-se de passagem, residia uma senhora carrancuda e um porteiro banguela que à troca de seus dentes fronteiriçoes residia numa das terraças mas bem quistas do microcentro da capital argentina. Eis que me ocorre outra lembrança.

A terraça.
Coisa linda, uma vista que de tão vasta que quase se podia ver o pequeno porto de Colonia ditar bifurcações pra Montevideo. Era, veja bem, uma panorâmica 360graus de San Telmo, de Puerto Madero e do Rio-Quase-Mar-de-La-Plata.

Recordei-me das tantas reflexões que o nascer-do-sol-daquele-ponto-de -vista-da-terra pôde nos ofertar. Lembrei de como hablamos sobre o verde no centro do espectro luminoso visível, em como parecia impagável ver o sol submergir de um rio tão geopoliticamente conhecido... Em como o céu, e isso foi dito, parecia relativo, infinito, opaco, ilimitado, tudo ao mesmo tempo; a forma como o prédio do Ministério da Defesa se fazia sempre muy hermoso e pequeno visto do alto. Como a liricidade aventureira das fiações que cortavam o céu nos convidavam à tirolesas, cordas bambas e outras formas inustiadas de equilíbrio.

As coincidências, el infinito del mar, la relatividad del cielo, la duda, la belleza, la magnitud de los dos.. tan similares

Parei. A Paseo Colón se mesclava con  a Avenida La Rabida para logo después de em Rivadávia, numa questão cartesiana de curvas apresentar-se más hermosa que nunca, una belleza que sediava o coração provinciano da junção de Montserrat con Sal Telmo: la Av. de Mayo.

Adentré na plaza de Mayo como que camuflando-me, onde pombos, empleados, niños e manifestantes formavam entre si teias fluidas de energias distintas, vidas, destinos e andares completamente alheios e codependentes naquele dia de sol, naquela interação convencional dos centros urbanos. Un chico brincava de ser rei no reino submisso dos pombos, uma senhora vendia fitinhas da campanha do câncer com olhar de quem na verdade fazia caridade. Um outro ouvia rádio sentado displicente no banco da praça, uma mãe puxava seu congenito pelo braço e, embalada na pressa pro trabalho, se ia em descompasso largo com as pernas curtas do filho. Dava vontade de pedir calma. De portugês mudo e castellano recém estrangeiro.

Pensei nos filmes antigos de procederes fantasiosos e, por minuto, Mariano Barrionuevo numa imaginosa aparição, cruzaria meu caminho naquela sexta-feira que pra mim era última e para ele seria só mais um dia de pretexto pra sair na rua e dar a conhecer a cidade de Buenos Aires aos seus alunos. - Ora fomos ao cemitério da Recoleta, vimos os gatos enfermos nas entranhas de tudo, conversamos sobre um bordel, um músico, pianos e a dita rua tacahuano, que posteriormente me confundiria os sensos de difereção. - E, em sua aparição, ele cruzaria não só a direção, mas olhar. E me olharia indignado com a questão explícita, 'Por onde foi que andaste?', ele perguntaria com a mesma entonação com que eu lhe direcionei o questionamento acerca de quantos anos é que faziam que o piano residia em sua vida, e eu sorriria como que meu sorriso lhe fizesse bem, e com o mesmo olhar de felicidades que o olhei quando me relatou a história do Nigri, seu cachorro vira-lata, apenas continuaria a sorrir.
Ah, Sr. Barrionuevo, mal preenchendo suas calças apertadas no cinto, como é que preencheria meu coração?

Mariano não apareceu, obviamente, como disse. Sei que de forma ou outra me foi bom revê-lo naquele dia que ventava horrores. Obrigada, era tudo o que eu gostaria de dizer. Enfim, subi Av de Mayo feliz da vida, passando pelo café London no qual nunca entrei, cumprimentando em silêncio o início andino da Calle Florida, os sebos de livros e coisas diversas, um Havana, milhares de kioskos, cambié unas monedas y me fue hasta el plaza San Martín.

Não foi de subito, mas me bombardearam as lembranças.

O reggeaton, a rua niceto, Rua brasil 669, Grooooove santa fé alguma coisa,
clandestino, tequila, mais reggaeton y folklore.
Chacabuco, pub, blues ausente.
Alguma coisa banelco, um ônibus que vai direto, fica ali na esquina.
Aqui me quedo, ai que medo!
Multifruta, cepita, empanada, sede, feira feira feira. Capresssse.

As noites de infinito bom humor.
Os almoços de constante pasta, beringela tomate cebola , feijão?
As ressacas sedentas, a água da torneira, aveia do biscoito.
Someboooooodythat i us..., heart a mess, agora.

O pêssego na geladeira, a toalha no corpo, a vergonha na cara.
O desespero, a chave na porta.
O portugês mudo no ônibus, o silêncio de quem é nativo.
As janelas vizinhas na nossa janela, o le bar.
Le Bar,
Lamour.

As paixões furtivas pelos prédios, pela beleza ordinária dos homens
pelo granizado no frapuccino.
O assovio, o elevador, o escuro,
a linha A do metrô, as linhas mils dos colectivos.
Fernet.
coca, coca, fernet.
Quilmes, varanda, foto, nudez. Alma.

Alguma hora confusa da madrugada,
pois aqui no verão o dia é longo, pensei, e a madrugada é profunda.
O final da tarde se anuncia com um sol a pino
e o limiar da noite se pulveriza no nascer precoce de mais um dia
14 horas de um sol longo no céu.
Trinta dias de amor na alma,
de medo, de agonia, saudade,
trinta exatos dias de profunda... profunda o que exatamente?
Pouco importa o substantivo, veja bem.


Fernet, quilmes, coca, Fernet
janela, tigre, tren
córdoba, geladeira
ar condicionado, poeira, 
janela tigre tren


que lindo, que lindo! me pareceu
que lindo, pensé
y contemplé


e cerrei os olhos, esperando que algo a menos os cortassem feito eles cortavam meu destino,
que era tudo que colava na minha retina futuro adentro:
 Os muros e os prédios e as pessoas e o balançar das folhas e o negativo daquelas lembranças que, sucessivamente com o meu andar, de porvir, viravam presente.