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Eu poderia amar aquele homem. Amar muito.
Era assim toda vez que o via. Bastava que ele chegasse e fizesse o que tivesse que fazer, logo flagrava a mim mesma fotografando todos os seus trejeitos e dicções. Repetindo, em silêncio, a imensidão do amor que eu poderia jurá-lo.
Momentos depois, no vislumbre de seus retratos da mocidade; no revelar de seus ideais, de suas poesias e de seus gostos; de seus gestos e desgostos que a vida projetara. Depois de tanto, depois de tudo, ele ainda me permitia vê-lo ali, de pé, sem dar-se conta ao menos da concessão de sua presença que apenas eu, agradecida, valorava como ninguém - imersa em meu amor potencial.
Já não tão atraente esse homem, veja bem. Ser orgânico é ser temporal. E eu poderia amá-lo muito, e mais, por isso.
Principalmente, vos digo, o amaria pelo broche que carrega no peito. Por todos os livros que ele lera. Pelos versos que sei que ele esboça muito bem. E pela barba volumosa, e pela irreverência.
Pelo entrar por aquela porta, pelas líricas intersecções,
falo sério, e com fervor,
eu poderia muito amar aquele homem.
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